sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011


"Nunca percas a esperança. Haja o que houver, permanece confiando. Se tu estiveres contra, e o insucesso te amaeçar com o desespero, ainda aí espera a ajuda divina. Somente nos acontece o que será de melhor pra nós. A lei de Deus é de amor. E o amor tudo pode, tudo faz.

Quando pensares que o socorro não te chegará em tempo, se continuares esperando descobrirás, alegre, que ele te alcançou minutos antes do desastre. Quem se desespera já perdeu parte da luta que irá travar, avançando prejudicado". Joana de Ângelis - Vida Feliz.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

quando chega a idade.....



ALÔ......Gatinha aos "enta"..


Visita de rotina aos médicos.
Todo ano a mesma peregrinação. Mastologista,ginecologista, oftalmologista, dentista...
Mas um dia, resolvi incluir um "ISTA" novo na minha odisséia....
Um DERMATOLOGISTA... Já era hora de procurar uns creminhos mágicos para tentar retardar ao máximo as marcas da inevitável entrada nos ENTA.


Na verdade, sentia-me espetacular. Tudo certo.
Ninguém podia cantar para mim a ridí­cula frase da Calcanhoto 'nada ficou no lugar....'

Mas não sei o que deu no espelho lá de casa, que resolveu, do dia para a noite, tomar ares de conto de fadas. Aliás, de bruxas. E mostrar coisinhas que nunca haviam aparecido (ou eu não havia notado?)..

Pontinhos azuis nos tornozelos, pintinhas negras no colo, nos braços, bolinhas vermelhas na bunda... olheiras mais profundas...
Como assim???
Assim... Sem avisar nem nada.
De repente, o idiota resolveu mostrar e pronto.
Ah, não! Isso não vai ficar assim.
Um "ista" novo na lista do convênio.O melhor.
Queria o melhor especialista de todos os "istas"!
Achei.
Marquei. E fui tão nervosa quanto para um encontro 'bem intencionado' daqueles em que a gente escolhe a roupa íntima com cuidado, que é para não fazer feio.... nem parecer que foi uma escolha proposital... sabe como é, né?
Pois sim. O sujeito era um dermatologista famoso.
Via e cutucava a pele de toda a nata feminina e masculina da cidade...
Assim, me armei de humildade.
Disposta a mostrar cada defeitinho novo que estava observando, através do maquiavélico e ex-amigo espelho de meu quarto.
Depois de fazer uma ficha com meus dados, o 'doutor' me olhou finalmente nos olhos, e perguntou:
'O que lhe trouxe aqui?'
Fiquei vermelha como um tomate. E muda.
Ele sorriu e esperou.

Quase de olhos fechados, desfiei minhas queixas.
Ele observou 'in loco' cada uma delas, com uma luz de 200wtz e uma lupa...
E começou o seu diagnóstico.
'As pintinhas são sinais do Sol, por todo o Sol que já tomou na vida. Com a IDADE (tóin!) elas vão aparecendo, cada vez mais numerosas. Vai precisar de um protetor solar para sair de casa pela manhã, mesmo sem ir à praia. Para dirigir inclusive. Braços e pernas e rosto e pescoço.
E praia? Evite. Só de 6 às 10 da manhã, sob proteção máxima, guarda sol, óculos e chapéu. Bronzear-se, nunca mais.'

-Ahmmm... (a turma só chega às 11:00 !!!!)
-'Os pontinhos azuis são pequenos vasos que não suportam a pressão do corpo sobre saltos altos.Evite. Use sapatos com solado anabela ou baixos, de preferência. Compre uma meia elástica, Kendall, para quando tiver que usar saltos altos.
-Ahmmmaaaa... (Kendall??? E as minhas preciosas sandalinhas???)
-'As bolinhas na bunda são normais, por causa do calor. Para evitá-las use mais saias que calças. Evite o jeans e as calcinhas de lycra. As de algodão puro são as melhores... E folgadas...'
- Ahmnunght?? ?? (e pude 'ver' as de minha mãe, enormes na cintura, de florzinhas cor de rosa..... vou chorar!).
- 'As olheiras são de família. Não há muito que fazer. Use esse creminho à noite, antes de dormir e procure não dormir tarde. Alimentação leve, com muita fruta e verdura, pouca carne e muito peixe. Nada de tabaco, nem álcool... Nem café.'
E então a histérica aqui­ começou a rir...
Agradeci, peguei suas receitinhas e saí­ rindo, rindo....
Me dobrando de tanto rir!
No carro comecei a falar sozinha...
Tudo o que deveria ter dito e não disse:
'Trabalho muito, doutor,... muitas noites vou dormir às 2h, escrevendo e lendo.
Bebo e fumo. Tomo café. Saio pelas noites de boemia com os amigos e seus violões para as serenatas de lua cheia... E que noites!!!!
Adoro os saltos, principalmente nas sandálias fininhas. Impossível a meia elástica(argh!!). Calcinhas de algodão? E folgadas??? Adoro as justinhas e rendadas... E não abandono meu jeans nem sob ameaça de morte!!! É meu melhor amigo!!!!
Dormir lambuzada? Neste calor? E minhas duchas frias com sabonete Johnson para ficar fresquinha como um bebê, cada noite?
E nada de praia??? O senhor está louco é??? Endoideceu foi??? Moro no Recife, com esse mar e tudo...E tenho só 40 anos....
Meia vida inteira pela frente!!!
Doutor Filistreco, na minha idade não vou viver como se tivesse feito trinta anos em um!!!
Até um dia desses tinha 39...
E agora em vez de 40 estou fazendo 70???

Inclua aí na sua lista de remédios... para as de 40 a 60, MEIA LUZ...
Acho que é só disso que eu preciso.
Um bom abajur com uma luz de 15wts...

E um namorado que use óculos...
É isso... só isso!!! Entendeu????'

Parei no sinal e olhei de lado... e um cara de uns 25 anos piscou o olhou para mim. Ah... e ele nem usava óculos!

Nunca fiz o que me recomendou o filistreco ...
Minhas olheiras são parte de meu charme..
E valem o que faço pelas noites a dentro... Ah!!! se valem!
As bolinhas da bunda desapareceram com uma solução caseira de vitamina A, que quase todas as mulheres usavam e eu não sabia, até que contei minha historinha do 'bruxo mau'.
Os sinaizinhos estão aqui... sem grandes alardes... e até que já acho bonitinho.
O espelho é muito menor... o outro, eu dei a minha filha.

E meu namorado diz que estou cada dia mais linda! Principalmente quando estou de saltos e rendas, disposta a encarar uma noite de vinhos e música.
É claro que ele usa óculos.
Mas quando quero ficar fatal, tiro os seus óculos... e acendo o abajur.

'No mundo sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é, e
outras, que vão te odiar pelo mesmo motivo.
Acostume-se.....
O melhor ‘ISTA’ é ser OtimISTA


(desconheço o autor desta pérola)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011


Sandra Maia
Por Sandra Maia . 16.02.11 - 12h37
O que fazer depois de uma traição

Do que você seria capaz se fosse traído? Se fosse deixado de lado? Se, pior, sentisse a rejeição batendo à sua porta, ao ser trocado por outro? Até onde iria sua ira? Seria capaz de colocar essa pessoa em apuros? Lançar mão de um processo de mentiras, de histórias falsas, de amor e ódio, por pura vingança?

Contaria tudo para o mundo todo do seu jeito, mesmo que distorcendo a realidade, só para dar o troco? Transformaria a imagem deste(a) – até então um príncipe/princesa –, num demônio? Quanto de energia você empregaria nessa revanche? Quanto do seu tempo e recursos investiria para ver-se satisfeito? Cego(a) de raiva, seria capaz de colocar sua felicidade em jogo só para ser atendido(a) nessa “sede” que, cá para nós, não resolve em nada problema algum?

Tenho um amigo passando exatamente por essa situação. A garota se apaixonou depois de três meses de encontros casuais, e ele, como todo Don Juan, fez “a fila andar”. Resumindo, ela enlouqueceu. E, por consequência, está fazendo um estrago razoável na vida dele…

Ocupados
Coincidências à parte, esse tipo de atitude não ajuda em nada, não é mesmo? Primeiro, porque não há mentira que se sustente todo o tempo para todo mundo. Depois, porque quando empregamos a nossa vida, que é sagrada, na vingança, deixamos de viver o nosso sonho, de experimentar outras oportunidades, olhar para outras possibilidades. Estamos muito ocupados em não caminhar…

Além disso, essa dor não tem muito a ver com amor. Quem ama liberta. Quem ama quer ver o outro feliz seja como for. Quem pode amar e ser amado é aquele que já encontrou o amor dentro de si mesmo. Está bem, seguro, com a auto-estima equilibrada. Não precisa se provar, não precisa de provas de amor, não precisa de nada para se fazer compreendido. Aceita, confia e agradece. Entende que o sonho pode sempre ser sonhado.

Afinal, amor é algo que trazemos dentro. É também uma escolha de vida e de relacionamento. E, como toda escolha, não é para todos. É para os que despertaram internamente esse sentimento e, que, por isso, renovam seus votos para continuar a seguir no aprendizado.

Amam a si, ao outro, a vida, o belo, amam a natureza e a tudo que os toca. São generosos, estão prontos para ouvir, falar, dar e receber. E, nesse sentido, vale sempre reforçar, é irracional pensar que podemos interferir na escolha do outro, fazê-lo mudar de idéia se assim não quiser.

Livres
Não há – verdadeiramente – nada que possa prender um outro a nós… E esse também não deveria ser o objetivo da nossa vida. Somos mais, podemos mais, o amor, o outro, a relação podem e devem ser incluídos – mas é só!

O caminhar, o sonhar, o aprender depende do nosso querer, do que precisamos para evoluir e amadurecer. E, nesse contexto, o outro pode ou não caminhar conosco – e não há nada que possamos fazer para que escolha diferente.

Amar é, por si, um sentimento de liberdade que contagia a tudo e a todos que estão à volta. Quando olhar um casal feliz, observe, há harmonia, há paz, há também guerra – mas acima de tudo, a decisão de caminharem juntos.

E, como já estava escrito no livro dos livros, “o amor é o começo, o meio e o fim… ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine… porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido…”

Por fim, não há amor sem solidariedade, sem compaixão, sem empatia. Não há amor se não soubermos exercitar o ser…

Qual a sua história de amor? Você conseguiu superar a vontade de se vingar? Conseguiu trazer luz e energia para o seu dia a dia? Lembre-se: é só isto que conta. Para nós e para o outro, só o bem!

Escolhas, sempre escolhas.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Obediência voluntária







Ouviu do marido que deveria ser submissa. Foi ao dicionário ver o significado de submissão: “Ato ou efeito de submeter. Obediência voluntária; sujeição: submissão perfeita. Humildade, humilhação, passividade, subserviência.” Sentiu um abalo sísmico no corpo. Só guardou uma palavra: voluntária. A partir dela desenvolveu seus argumentos. Não se voluntariava a fazer a vontade de outra pessoa contra seus próprios desejos e interesses. Não, não era outra pessoa, era seu marido, carne de sua carne, que pretendia o bônus de ser o condutor de sua vida. Discordou, questionou, vociferou: “por que eu?” Por que ele não entregava também as rédeas de sua vida a ela? Porque o matrimônio era um corpo e, logo, o marido é a cabeça, a parte pensante, a parte que decide. Era mandamento divino, desígnio de Deus. A ela cabia ser uma mulher virtuosa.

Foi ao dicionário ver o significado de virtuosa. “Aquela que tem virtudes”. E virtude significa “disposição firme e constante para a prática do bem, força moral e valor.” Gostou. Enquadrava-se perfeitamente. O marido disse que não, que ela era rebelde e transgressora, além de distorcer as escrituras sagradas.

Percebeu que entendiam as palavras de maneiras distintas. Era inútil discutir. A voz grave do marido selava a decisão, sempre. Quis debandar, desaparecer, mas teve medo. Sobretudo, medo de Deus. A desobediência era fruto do maligno. Melhor obedecer e ser dócil como insistia o marido. Tentou. Vieram os filhos. Dois. Adoçavam seus dias para que pudesse suportar o amargo das noites. Teve a alma rasgada, as vísceras perfuradas e a autoestima dissolvida em lágrimas de solidão. As pessoas não a compreendiam. Outras mulheres invejavam sua condição, dizia o marido nos contínuos sermões que proferia na intimidade do quarto. No calor desses discursos, desejava ser surda. Acionava um tampão virtual para bloquear as palavras. Mas as palavras possuíam um fio cortante e penetravam os tímpanos. Depois ficavam dando voltas em espirais, perturbando o espírito, desestabilizando a alma. A circunvolução dos significados era o mais puro estado de horror, com o agravante de ser para sempre, não enxergava saídas. Sentia pena de si. Sentia na pele a rejeição por parte da humanidade. Depressão?

Os filhos cresciam, a ira crescia e crescia um sentimento de mágoa contra Deus. Isso porque Deus estava do lado do marido. Tentou ajuda espiritual, veio a sentença: blasfêmia. Deus amava os limpos de coração. A ela lhe faltavam fé, sabedoria e empenho. A mulher sábia edifica o lar e ela o estava derribando. Para Deus nada era impossível, de forma que o problema estava nela e com ela. Faltava crer, faltava amor, faltava entrega, faltava, faltava, faltava.........

Voltou impotente, frustrada, confusa. Era Deus machista? Torturador? A pergunta ficou rodando como um redemoinho em seu cérebro. Era certo que não poderia culpar Deus por suas próprias escolhas. Mas já não sabia o que pensar. Sentiu-se suja, corrompida pelo pecado do ódio e da blasfêmia. Devia perdoar Deus e o marido. Devia amá-los, mesmo estando vazia de amor. Nessas horas, corria para debaixo do chuveiro com roupa e tudo. Tentava lavar a alma, o coração, os pensamentos se possível. Precisava apagar da mente o poema com sentença de morte pregado na parede principal do cérebro. Começaria apagando a primeira frase: “A ‘vida’ é um lugar onde não se pode viver.” Sempre colocava a vida e a morte entre aspas. Estava perturbada, nisso o marido tinha razão. Também devia ter razão quando pronunciou com a boca cheia que ela era frígida. Sexo era a página escura com que abria suas noites. Sexo doía, afetava o estômago e as entranhas. Era uma violência silenciosa que ela conhecia de memória. Mas às vezes não era apenas silenciosa.

Amanheceu com os olhos roxos e inchados. Tinha dúvidas sobre o que fazer, perderia a razão se falasse, perderia a vida se calasse. Sentiu-se a poucos passos de uma eternidade desconhecida. Recorreu à autoridade civil. Falou o que estava proibido mencionar. Falou da agonia de viver mascarada por outra realidade, do medo de respirar, o perigo, os riscos... Porém, em seu ser mais profundo sentia que a situação era incomunicável. Ninguém poderia compreender a atmosfera em que estava metida. Chamariam o marido e o alertaria de seus direitos e deveres dentro de uma união. Seria interrogado, talvez ameaçado... Quanto a ela, bem, seria encaminhada a uma psicóloga cuja lista de espera era de dois meses. Ainda assim, aceitou a benevolência.

Naquela noite trancou-se no quarto para tentar fugir da hora assombrosa, a intuição dizia que necessitava ser valente. Não conseguiu ser tanto quanto o necessário, a porta foi aberta a golpes estridentes. Sentiu saltar a pulsação da veia do pescoço, sentiu o pulso, o coração e depois um descanso profundo.

Acordou no hospital entre paredes brancas e forte cheiro de álcool. Lesão craniana. O marido segurava sua mão enquanto o médico lhe perguntava detalhes sobre o terrível acidente que sofreu. Um vaso de flores havia caído sobre sua cabeça. Não, não se lembrava de nada, assegurou. Tentou mover o pescoço imobilizado e lançou um grito de dor. As lágrimas saltaram por uma comporta e lavaram seu rosto cansado. Iria morrer? Não, mas poderia ter morrido, censurou o médico ao referir-se à sua falta de cuidado. Por conta disso, um longo período de observação e uma semana mais de hospital.

A última frase do médico soou como uma felicidade-luz. Um profundo prazer inundou seu interior. Foram dias brancos e felizes. Dias em que não ouviu a voz de seu feitor. Dias em que pensou só, sem nenhum condicionamento autoritário. Os pensamentos ultrapassavam os limites de seu cérebro. Descobriu que dentro de si havia uma voz potente e que podia sentir-se gente no mundo, o mundo que era sempre dos outros. Imaginou se já não era o momento de tomar as rédeas de seu destino. Saiu do hospital sentindo o hálito de um novo dia, um dia que seria só seu. Os filhos, já com dezoito anos, celebraram o que poderia ser a paz. Ela examinou a casa. As paredes azuis da casa, a marca na escada onde havia um vaso com flores... À noitinha observou uma lua jovencíssima no céu. A lua que também recomeçava uma nova fase. Nenhuma palavra desesperada, nenhum remordimento iria tirar o seu prazer. O prazer de ser ela mesma, o prazer de se amar.

Pela manhã o médico foi chamado, mas a mulher de semblante doce estava morta. Traumatismo cranioencefálico atestou o doutor. O marido foi ao dicionário buscar o significado da palavra, o conceito, a etmologia... elaborou uma definição ponpoza e explicava a cada um de seus amigos com resignada consternação cristã.

Lucilene